Por; Pilar Rahola*
Os mineiros tinham, até bem adiantado o século XX, uma técnica infalível para se protegerem nas profundidades da rocha: os canários.
A pequena ave, mais sensível que o homem à falta de oxigênio e aos gases tóxicos, morreria primeiro que estes se nas minas houvessem gases venenosos ou demasiado monóxido de carbono. Se os mineiros vissem os canários morrerem ou asfixiarem-se, sabiam que deviam abandonar a mina a toda velocidade. O canário era o primeiro que sofria por um mal que acabaria por matar a todos.
Em Skopje, na ex-Iugoslávia, encontrei certa vez um ancião que havia sobrevivido à história eriçada de guerras de seu país. Contou-me o segredo de sua sobrevivência: "Quando os judeus são perseguidos ou escapam – disse com sua boca desdentada – é hora de fazer as malas".
O ancião iugoslavo tinha razão: na história moderna os judeus foram os "canários" do mundo. Elementos minoritários e vulneráveis da sociedade, os judeus sempre foram o primeiro alvo dos movimentos de destruição e desumanização.
Na Inglaterra do "apaziguamento", Winston Churchill denunciava o verdadeiro caráter da Alemanha nazista. Um regime que começa perseguindo os judeus – dizia Churchill – cedo ou tarde ameçaria a liberdade e a vida de todos.